Apática ou não, me agrada o outro. O que não sou eu, o diferente. Assusta, mas agrada. Fico assim na ventania, que acompanha o movimento do meu espírito e contrasta com a expressão do meu rosto. Apaixonei-me pelo vento forte, que me arde os olhos e às vezes os faz chorar. Apaixonei-me pelo eu que não sou, refletido no outro. Apaixonei-me pelos olhos, nariz, boca, corpo e voz – e mais, muito mais pelo espírito. Porque sim, existem ventanias com olhos, nariz, boca, corpo, voz e espírito, tão intenso que me sinto afogar. O vento entra pelas narinas, ar tão necessário que parece até absurdo poder respirá-lo. O amor entra pelas minhas narinas, tão necessário que temo não conseguir inspirá-lo.
Mas rasgo os pulmões, provando que posso senti-la. Ela – a ventania – entra e arrasta meus sentimentos para dentro de mim. Depois volta, e temo que os leve com ela. Mas eles ficam e vão, repartem-se e não se acabam. E eu sinto. Ainda sinto. E acredito em mim, sensível.
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pátio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
- Olavo BilacE eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."