quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

A falta do nada

Dolce far niente - doce fazer nada.

Fazer nada não é doce quando se tem tarefas por cumprir e nem é fácil nos dias de hoje.

Sinto falta de fazer nada, mas isso não é simplesmente ter tempo livre. Hoje em dia somos bombardeados a cada instante com informação, inclusive no ócio. Facebook e Instagram nos informam das atividades dos nossos conhecidos, ou mesmo notícias sobre política e economia. Na Netflix, sempre um monte de séries para ocupar o tempo. Jogos não faltam para quem saiba procurar. Mas nada disso é o fazer-nada que me falta.

Sinto falta de olhar para onde os olhos descansem, sem observar. De ficar sozinha com meus pensamentos, olhando a paisagem, mesmo que ela seja uma parede branca. Ficar parada até sentir algo que me é raro: o tédio. Até sentir uma vontade genuína e voluntária de me mover para fazer alguma coisa.

Parece que somos sempre obrigados, mesmo no ócio, a fazer algo. Aproveite o tempo para adiantar o trabalho! Veja séries! Leia um livro! Saia para passear! Se atualize com as notícias! Passe tempo com a família! Vá beber com os amigos!
Tudo isso é bom, mas nessa obsessão por preencher o tempo falta o vazio. Falta o fazer nada, falta deixar o pensamento vagar. E depois sentir uma vontade renovada para fazer todas as outras coisas.