terça-feira, 14 de junho de 2011

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"Somente aquele que foi o mais sensível pode tornar-se o mais frio e o mais duro, para se defender do mais pequeno golpe - e esta própria couraça lhe pesa muitas vezes."

- Goethe.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Les mots, les choses et nous.

Este texto deve estar com uns pedaços estranhos, incompletos... mas o sono não permitirá uma revisão, Foucault e leitores me perdoem. Mas garanto que não foge muito disso, rs:
 
 
 
"Enfim, a quarta forma da semelhança é assegurada pelo jogo das simpatias.
Nela nenhum caminho é de antemão determinado, nenhuma distância é suposta,
nenhum encadeamento prescrito. A simpatia atua em estado livre nas profundezas
do mundo. Em um instante percorre os espaços mais vastos: do planeta ao homem
que ela rege, a simpatia desaba de longe como o raio; ela pode nascer, ao contrário, 15 toda pessoa que de um só contato — como essas “rosas fúnebres que servirão num funeral”, que, pela simples vizinhança com a morte, tornam “triste e agonizante”
respirar seu perfume. Mas é tal seu poder, que ela não se contenta em brotar de um
único contato e em percorrer os espaços; suscita o movimento das coisas no mundo
e provoca a aproximação das mais distantes. Mesmo tão forte e tão contumaz que não se contenta emassimilar, de tornar aso mundo se reduziria a um ponto, a uma massa .Assim, Ela é princípio de mobilidade: atrai o que é pesado para o peso do solo e o que é leve para o éter sem peso; impele as raízes para a água e faz girar com a curva do sol a grande flor amarela do girassol. Mais ainda, atraindo as coisas umas às outras por um movimento exterior e visível, suscita em segredo um movimento interior — um deslocamento de qualidades que se substituem mutuamente: o fogo, porque quente e leve, se eleva no ar, para o qual as chamas infatigavelmente se erguem; perde, porém, sua própria secura (que o aparentava à terra) e adquire assim certa umidade (que o liga à água e ao ar); desaparece então em ligeiro vapor, em fumaça azul, em nuvem: tornou-se ar. A simpatia é uma instância do  ser uma das formas do semelhante; tem o perigoso poder de  coisas idênticas umas às outras, de misturá-las, de fazê-las desaparecer em sua individualidade — de torná-las, pois, estranhas ao que eram. A simpatia transforma. Altera, mas na direção do idêntico, de sorte que, se seu poder não fosse contrabalançado,  homogênea, à morna figura do Mesmo: todas as suas partes se sustentariam e se comunicariam entre si sem ruptura nem distância, como elos de metal suspensos por simpatia à atração de um único ímã. Eis por que a simpatia é compensada por sua figura gêmea, a antipatia. Esta mantém as coisas em seu isolamento e impede a assimilação; encerra cada espécie na sua diferença obstinada e na sua propensão a perseverar no que é: “É assaz conhecido que as plantas têm ódio entre si... diz-se que a oliveira e a videira odeiam a couve; o pepino foge da oliveira... Sabendo-se que seu crescimento se deve ao calor do sol e à umidade da terra, é necessário que toda árvore opaca e espessa — assim como aquela que tem várias raízes — seja perniciosa às outras”  infinitamente, através do tempo, os seres do mundo se odiarão e manterão, contratoda simpatia, seu feroz apetite. [...]

A identidade das coisas, o fato de que possam assemelhar-se a outras e aproximar-se delas, sem contudo se dissiparem, preservando sua singularidade, é o contrabalançar constante da simpatia e da antipatia que o garante. Explica que as coisas cresçam, se desenvolvam, se misturem, desapareçam, morram, mas indefinidamente se reencontrem; em suma, que haja um espaço (não, porém, sem referência nem repetição, sem amparo de similitude) e um tempo (que deixa, porém, reaparecer indefinidamente as mesmas figuras, as mesmas espécies, os mesmos elementos). “Conquanto em si mesmos os quatro corpos (água, ar, fogo, terra) sejam simples e tenham suas qualidades distintas, todavia o Criador ordenou que de elementos misturados seriam compostos os corpos elementares, razão pela qual suas conveniências e discordâncias são notórias, o que se conhece pelas suas qualidades. O elemento do fogo é quente e seco; tem, portanto, antipatia pelos da água, que é fria e úmida. O ar quente é úmido, a terra fria é seca, eis a antipatia. Para conciliálos, o ar foi colocado entre o fogo e a água, a água, entre a terra e o ar. Enquanto é 18 A soberania do par simpatia — antipatia, o movimento e a quente, o ar se avizinha do fogo e sua Umidade se acomoda com a da água. Ademais, porque sua umidade é temperada, modera o calor do fogo de que também recebe ajuda, assim como, de outro lado, por seu calor medíocre, amorna a frieza úmida da água. A umidade da água é aquecida pelo calor do ar e abranda a fria secura da terra.” dispersão que ele prescreve dão lugar a todas as formas da semelhança. Assim se da analogia são suportados, mantidos e duplicados por encontram retomadas e explicadas as três primeiras similitudes. Todo o volume do mundo, todas as vizinhanças da conveniência, todos os ecos da emulação, todos os encadeamentos  esse espaço da simpatia e da antipatia que não cessa de aproximar as coisas e de mantê-las a distância. Através desse jogo, o mundo permanece idêntico; as semelhanças continuam a ser o que são e a se assemelharem. O mesmo persiste o mesmo, trancafiado sobre si."

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Montaignisses - quando o sujeito cognoscente se confunde com o objeto cognoscível.

“Aborrece-me parecer adulador, e como tenho naturalmente a expressão concisa, direta, sem adornos, considera-me algo desdenhoso quem não me conhece por outros aspectos. Os que eu mais admiro e respeito são os que menos demonstro admirar e respeitar, e quando me sinto particularmente feliz esqueço as convenções mundanas. Em relação às pessoas de que dependo, mostro-me pouco solícito e algo altivo; e agrado ainda menos os que me são mais caros. Parece-me que devem ler em meu coração e que minhas palavras trairiam a expressão certa de meus sentimentos. Trate-se de dar boas vindas, de dizer adeus, de agradecer, de oferecer meus préstimos, ou de quaisquer outros cumprimentos enfáticos que determina o cerimonial da boa sociedade, não conheço ninguém que se sinta tão inibido quanto eu.”


   MONTAIGNE, Michel Eyquem de. Ensaios. Tradução de Sérgio Milliet.  2ª edição - São Paulo: Abril Cultural. 1980. 

domingo, 10 de abril de 2011

Dream of Mirrors

Dream Of Mirrors - Iron Maiden

Have you ever felt
The future is the past
But you don't know how...?
A reflected dream
Of a captured time
Is it really now… is it really happening?

Don't know why I feel this way
Have I dreamt this time, this place?
Something vivid comes again into my mind
And I think I've seen your face
Seen this room, been in this place
Something vivid comes again into my mind
All my hopes and expectation
Looking for an explanation
Have I found my destination?
I just can't take no more!

The Dream is true, the dream is true...

Think I've heard your voice before
Think I've said these words before
Something makes me feel I just might lose my mind
Am I still inside my dream?
Is this a new reality
Something makes me feel that I have lost my mind
All my hopes and expectation
Looking for an explanation
Coming to the realisation
That I can't see for sure

The dream is true, the dream is true...

I get up put on the light
Dreading the oncoming night
Scared to fall asleep and dream the dream again
Nothing that I contemplate
Nothing that I can compare
To letting loose the demons deep inside my head
Dread to think what might be stirring
That my dream is reoccurring
Got to keep away from drifting
Saving me from myself

Lost in a dream of mirrors
Lost in a paradox
Lost and time is spinning
Lost a nightmare I retrace
Lost a hell that I revisit
Lost another time and place
Lost a parallel existence
Lost a nightmare I retrace

I only dream in Black and White
I only dream 'cause I'm alive
I only dream in Black and White
To save me from myself

The dream is true, the dream is true...




Eu não me reconheço tanto quanto antes. Sinto falta das minhas coisas, pequenas coisinhas que me faziam acreditar que eu sou eu mesma, materiais e psicológicas.  Quando olho no espelho me acho feia, no mínimo estranha. Estou com saudade das roupas pretas. Talvez eu tenha evoluído, talvez eu seja uma pessoa mais aberta agora (e realmente sinto isto) mas não quer dizer que isto seja confortável. Na maioria das vezes, o melhor NÃO é o mais confortável. Não sei mais o que sinto, não sei mais o que eu sou, estou assustada e não há ninguém para me ajudar.  Mas eu quero algum conforto outra vez! Quero amar minhas Musas como já amei um dia, quero que Euterpe me envolva em seu colo e não me deixe mais sair, que Clio seja compreensiva e amiga, e que Erato não mais me abandone. Eu já me senti mais auto-suficiente, já me senti com mais personalidade, já me senti mais amada. Estou num sonho de espelhos e não sei qual deles sou eu.


domingo, 3 de abril de 2011

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigos, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais"
.


POE, Edgar Allan. The Raven. Tradução de Fernando Pessoa. Imagem de Gustave Doré.
Deixa-me ser, que sendo
é que passo pelas minhas sendas,
transcendo e cresço

pra, sendo um ser, eu merecer
um recomeço.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Ouvido escrito.

Não dá pé, não tem pé nem cabeça, não tem ninguém que mereça, não tem coração que esqueça, não tem jeito mesmo, não tem dó no peito, não tem nem talvez ter feito o que você me fez, desapareça, cresça e desapareça... Não tem dó no peito, não tem jeito, não tem ninguém que mereça, não tem coração que esqueça, não tem pé, não tem cabeça, não dá pé, não é direito, não foi nada, eu não fiz nada disso e você fez um bicho de sete cabeças... Não dá pé, não tem pé, nem cabeça, não tem ninguém que mereça (não tem ninguém que mereça), não tem coração que esqueça (não tem pé, não tem cabeça), não tem jeito mesmo, não tem dó no peito (não dá pé, não é direito), não tem nem talvez ter feito (não foi nada, eu não fiz nada disso), o que você me fez, desapareça (e você fez um), cresça e desapareça... (bicho de sete cabeças), bicho de sete cabeças! Bicho de sete cabeças! Bicho de sete cabeças!

 - Composição: Zé Ramalho, Geraldo Azevedo e Renato Rocha

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

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A seguir, um texto enviado por alguém que gosto muito e que lembrou de mim ao lê-lo. Também pudera, eu mesma me vi neste texto, rs.


Ante a cegueira e a miséria do homem,
diante do universo mudo, do homem sem luz, abandonado a si mesmo e como
que perdido nesse rincão do universo, sem consciência de quem o colocou
aí, nem do que veio fazer, nem do que lhe acontecerá depois da morte, ante
o homem incapaz de qualquer conhecimento, invade-me o terror e sinto-me
como alguém que levassem, durante o sono, para uma ilha deserta, e
espantosa, e aí despertasse ignorante de seu paradeiro e impossibilitado
de evadir-se. E maravilho-me de que não se desespere alguém ante tão
miserável estado. Vejo outras pessoas ao meu lado, aparentemente iguais;
pergunto-lhes se acham mais instruídas que eu, e me respondem pela
negativa; no entanto, esses miseráveis extraviados se apegam aos prazeres
que encontram em torno de si. Quanto a mim, não consigo afeiçoar-me a tais
objetos e, considerando que no que vejo há mais aparência do que outra
coisa, procuro descobrir se Deus não deixou algum sinal próprio.
O silêncio eterno desses espaços infinitos
me apavora.
Quantos reinos nos ignoram!

- Blaise Pascal

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Arquitetura Íntima

            Os riscos no papel agora assemelhavam-se ao contorno de um dorso feminino.
            O tempo havia parado desde que ali se acomodara, portando aquele papel e um lápis preto – daqueles cujo traço se assemelha a carvão. Resolvera hoje materializar o exercício que fazia todas as manhãs em que acordara em companhia de uma bela moça: sempre acordava primeiro, para saborear de um modo sinestésico as curvas que remoldara na noite anterior. As ondas dos lençóis, as almofadas jogadas, o corpo nu movimentando-se no ritmo da respiração suave – tudo no ambiente era redesenhado em sua memória, como se houvesse um resquício de prazer na atmosfera infiltrando-se em seu corpo através dos poros e narinas, imobilizando seus olhos de modo a emoldurar seu campo de visão.
            Desde que acordara só havia bebido uma pequena xícara de café adormecido, pouco agradável ao paladar. Como estivesse muito confortável com a própria nudez, espreguiçou-se de frente à janela enquanto procurava com os olhos o maço de cigarros, habitualmente abandonado no parapeito, logo depois vitimando-o com sua falta de destreza matutina.
            Ao abaixar-se para apanhar os cigarros deu de cara com a pasta de desenhos que caracterizava seu ofício. Esqueceu-se do vício enquanto uma idéia lhe brotava no íntimo e passou a esmiuçar com os olhos o pedaço de papel que de lá escapava: pelos traços, concluiu ser a planta de uma pequena casa. Volveu os olhos para a mulher adormecida; nem tudo era “projetável”.
            Posicionou-se de frente para a cama, lápis e papel à mão. Não é possível arquitetar uma mulher – os cabelos escondiam-lhe a face, os cachos eram um prenúncio das ondas que compunham o corpo em repouso. O primeiro traço, o mais difícil: não sabia por onde começar, desconhecia os alicerces que constituíam a base daquela obra. Acostumara-se às retas, seu espírito deixara-se encaixotar pela exatidão dos quadrados e triângulos retângulos, embora na arte nunca tenha lhe agradado os Picassos.
            Depois de alguns traços a idéia pareceu mais “possível”. “Quantas curvas, meu Deus...”. Pensou que retas eram coisas de homem; mulher é mesmo assim, sinuosa, não se conclui com uma explicação direta. São necessárias muitas explicações, muitos caminhos e muitas curvas.
            Projeto finalizado, passou a desejar aquele desenho. O papel parecia-lhe um espelho – e poderia mesmo ser. Via ali a mulher que desejava, o corpo e a companhia que queria consigo e, quem sabe, para si. Via-se no corpo daquela mulher, o espírito excitado por uma invasão de sentidos e sentimentos. Dobrou o papel e cambaleou até a cama, deixando-se guiar pelo seu estado de embriaguês artístico-emocional.
            “Mas o amor é mesmo assim, sinuoso... Precisa de muitas explicações, muitos caminhos e muitas curvas...” – Beijou os cabelos da moça, que remexeu, aconchegando-se. – “...E de uma mulher.”

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ventania

          Muitas vezes provei que eu ainda sentia com meu próprio sangue. Cravava a unha bem fundo na pele e o via brotar, num vermelho que parece ser só seu _ quando mais funda a ferida, mais denso e escuro o sangue surge. Ser sensível é algo que me consome e ninguém vê. Ninguém vê! Queimei-me, rasguei a epiderme, agredi eu mesma minha face, e dei também a outra para bater. Treinei tantas vezes para aprender a dizer não, que aprendi a parecer com a própria palavra. No entanto, sinto; e talvez eu sinta ainda mais pela minha aparência apática no espelho.
         Apática ou não, me agrada o outro. O que não sou eu, o diferente. Assusta, mas agrada. Fico assim na ventania, que acompanha o movimento do meu espírito e contrasta com a expressão do meu rosto. Apaixonei-me pelo vento forte, que me arde os olhos e às vezes os faz chorar. Apaixonei-me pelo eu que não sou, refletido no outro. Apaixonei-me pelos olhos, nariz, boca, corpo e voz – e mais, muito mais pelo espírito. Porque sim, existem ventanias com olhos, nariz, boca, corpo, voz e espírito, tão intenso que me sinto afogar. O vento entra pelas narinas, ar tão necessário que parece até absurdo poder respirá-lo. O amor entra pelas minhas narinas, tão necessário que temo não conseguir inspirá-lo.
        Mas rasgo os pulmões, provando que posso senti-la. Ela – a ventania – entra e arrasta meus sentimentos para dentro de mim. Depois volta, e temo que os leve com ela. Mas eles ficam e vão, repartem-se e não se acabam. E eu sinto. Ainda sinto. E acredito em mim, sensível.

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pátio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
                                                                                                      - Olavo Bilac

Novas artes, novo engenho?

Ó arte, tu que és tão forte, que incomodas, alivias, alertas... matas? o homem; explica-me de onde vem a perturbação que te acompanha.

Deves incomodar, isto é fato. Mas sempre cri na perturbação vinda dos sentidos pra dentro; no entanto cada vez comprovo que vem, também ou principalmente, de dentro para fora.

Arte, explicai-me, por que seus filhos são inquietos e auto-destrutivos?
Por que seus jovens filhos, aflitos ou não, parecem esquecidos de si e de todo poder social coercitivo, às vezes tendendo mesmo ao clichê _ coisa que me surpreende, considerando tal veia artística? Por que estes mesmos filhos, tão sensíveis, simplesmente parecem incapazes de se preservar e preocupar-se em extaltar-te, ó Arte, de modo menos suicida?

Ou será esta tendência suicida e, talvez, amoral uma exigência aos mais sensíveis e verdadeiros de teus filhos?

Ou talvez eu seja mesmo "'socialmente criada" para ser insensível?

Ai de mim, que não posso ser completa...

Novíssima Pasárgada.

Pessoas inseguras têm necessidade de justificar seus atos (penso que esta frase não é minha, mas de alguém do qual não me recordo, sendo assim ousei pensar que tenho o direito de abolir as aspas) e eu, insegura como sou, faço minha primeira postagem justificando o nome do blog. Nada mais justo que começar tal explicação com a origem de uma das palavras que compõem o título:

Vou-me embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.


Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha falsa e demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei um burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe d'água
Pra me contar histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada.


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide a vontade
Tem prostitutas bonitas
Para gente namorar


E quando eu estiver triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
_ Lá sou amigo do rei _
Terei a mulher que quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.


[http://www.releituras.com/mbandeira_pasargada.asp]



Creio que este seja um dos meus poemas preferidos. Não digo "o" poema preferido apenas pelo fato de que, nas noites solitárias em que algum romancezinho me aflige, os poemas aos quais recorro estão todos na Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo. Algumas vezes mais às epígrafes que aos poemas... enfim. Tenho minha própria Pasárgada, inspirada na do Bandeira, e desde criança me refugio neste lugar imaginário. Prova disto é um poeminha meu, feito na infância/pré-adolescência ainda, chamado Sonhos e Devaneios:



Sonhos e Devaneios
Ou Poema Infantil


Vou viajar até Pasárgada
Ver meu velho amigo, o rei
Como princesa encantada
Com meu querido valsarei


E colherei a flor mais linda
Rosas ou flores de liz
E lutarei em mil batalhas
Só pra vencer e ser muito mais feliz


Vou em meus sonhos e devaneios
Para que os fins justifiquem os meios
E em meus sonhos e devaneios
Os últimos hoje, amanhã serão primeiros.


E no meu livro de leis
Todos nós seremos reis
E não haveriam problemas
Que não se resolvessem antes do mundo girar outra vez


Lugar assim tão carinhoso
Ninguém pode arquitetar
O meu refúgio é tão gostoso
Que se melhora, pode até estragar


Vou em meus sonhos e devaneios
Para que os fins justifiquem os meios
Pois em meus sonhos e devaneios
A esperança não é quem morre primeiro.




Daí surgiu o nome do blog, Nova Pasárgada, com a esperança de que aqui eu consiga escrever de uma maneira melhor do que nos últimos blogs/fotolog.

Boas noites!