sábado, 29 de dezembro de 2018

Da responsabilidade por aquilo que cativas

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".

Esta frase, dita pela raposa ao Pequeno Príncipe, deveria ser usada de uma forma mais refletida do que ela realmente é.
Não acredito que seres humanos maiores de idade sejam responsáveis pelos sentimentos uns dos outros, logo não se pode responsabilizar alguém que é objeto dos sentimentos do outro. Além disso, originalmente cativar significa manter cativo, prender. Na lógica da raposa, então, um relacionamento seria uma situação onde um está preso ao outro, de um lado pelo sentimento, de outro pela responsabilidade em ter despertado este sentimento. Isso não parece injusto?
Não querendo divagar sobre a parte romântica da frase, me atenho à sua aplicação que, na minha cabeça, faz mais sentido: tu te tornas eternamente responsável por aquilo que manténs em cativeiro.

Da última vez que visitei um zoológico me senti um pouco incomodada com aquela situação. Quis fazer esta visita por ter lembranças infantis muito bonitas, mas depois de adulta a ideia de manter animais selvagens em cativeiro me pareceu cruel. Houve um tempo em que este seria o único jeito de um brasileiro ter uma ideia de como é uma girafa, mas em tempos de globalização e internet me faltam argumentos para defender a existência dos zoológicos.
Mas há espécies de animais que foram mantidos por tempo demais em cativeiro, como os animais de fazenda, e que dificilmente se adaptam na natureza, caso os abandonemos Assim, sem entrar no âmbito de discutir se é justo ou não criar animais para explorar sua carne, seu leite ou sua força, deveria ser responsabilidade do humano garantir uma vida menos sofrida a este tipo de bicho.
Outro caso é o dos animais de estimação. Se eles são de estimação, significa que se tem estima por estes bichinhos. Neste caso, além da responsabilidade pelo cativeiro, o amor pelos animais adotados deveria fazer com que tivéssemos um senso de cuidado maior com eles.

Como não perceber que um gatinho ou um cachorrinho demandam atenção? Que querem sempre estar por perto, que buscam carinho, que se sentem protegidos quando dormem aos nossos pés? Que são como crianças pequenas e, se às vezes nos irritam quando fazem cocô no lugar errado ou destroem um móvel, não é por maldade?

Da minha parte, a cada ano que passa sinto que percebo mais o quanto não tratamos os animais de forma digna. Os cativamos e os abandonamos. Os cativamos e os exploramos sem pensar na forma que vivem. Os cativamos e, em troca da vida selvagem tomada, não damos um substituto melhor.