É bastante difundido um conto do Zen Budismo no qual um professor universitário faz uma longa viagem para encontrar um mestre zen e, em vez de ouvir o mestre, tentava a todo momento expor o seu próprio conhecimento sobre o zen. Então, o mestre lhe oferece chá e não pára de servi-lo quando a xícara começa a transbordar. Quando o professor reclama, dizendo que sua xícara está cheia, o mestre explica que, se a xícara dele já estava cheia, não havia razões para que ele buscasse os ensinamentos do mestre. Ou seja, para aprender é preciso se despir das próprias certezas.
Para aprender é preciso ter a humildade de escutar. Mas nós, professores, também precisamos esvaziar nossas xícaras, especialmente em um tempo onde a autoridade de quem ensina é constantemente colocada à prova pelas informações buscadas pelos alunos na internet.
Eu, particularmente, já passei por momentos em que a vontade era dar a carteirada de "a professora sou eu" quando algum aluno vinha contar que fulano de tal na internet discordava de algo que eu estava tentando ensinar. Mas a verdade é que, cada vez mais, o nosso lugar está mais relacionado a uma curadoria de conteúdos do que aquele de "emanar saber".
No fim das contas, nós, professores, somos apenas pessoas que já estão estudando um determinado tema há mais tempo. Continuamos estudando até o fim da vida, e talvez se nossos alunos conseguirem nos ver desta forma, vão compreender que estamos aqui para tentar mostrar um caminho que já foi percorrido por nós, para que eles não precisem perder tempo e disposição tentando não se afogar na infinidade de conteúdos (bons ou maus) disponíveis online.
E fica aqui um auto-lembrete: o de respirar fundo e contar até dez cada vez que algum aluno tentar me empurrar a sua xícara cheia. Afinal, se a minha também estiver transbordando, no fim nós dois sairemos frustrados deste encontro, molhados pelos nossos próprios chás.