“Aborrece-me parecer adulador, e como tenho naturalmente a expressão concisa, direta, sem adornos, considera-me algo desdenhoso quem não me conhece por outros aspectos. Os que eu mais admiro e respeito são os que menos demonstro admirar e respeitar, e quando me sinto particularmente feliz esqueço as convenções mundanas. Em relação às pessoas de que dependo, mostro-me pouco solícito e algo altivo; e agrado ainda menos os que me são mais caros. Parece-me que devem ler em meu coração e que minhas palavras trairiam a expressão certa de meus sentimentos. Trate-se de dar boas vindas, de dizer adeus, de agradecer, de oferecer meus préstimos, ou de quaisquer outros cumprimentos enfáticos que determina o cerimonial da boa sociedade, não conheço ninguém que se sinta tão inibido quanto eu.”
MONTAIGNE, Michel Eyquem de. Ensaios. Tradução de Sérgio Milliet. 2ª edição - São Paulo: Abril Cultural. 1980.