terça-feira, 13 de novembro de 2018

Este post é como um vômito.


Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos,
Só pode exultar.


Minha vó me disse esses versos antes de eu viajar pra Alemanha. Eu estava estressada com mil coisas: precisava entregar os trabalhos das disciplinas do mestrado, arrumar malas, organizar documentos, ajudar no lançamento do livro de poesias e o número de habitantes da minha casa tinha dobrado por causa do aniversário de vó e do lançamento do livro. Tudo isso e mais o medo de passar um ano em outro país - por isso vieram os versos de Gonçalves Dias.
Desde então, vira e mexe esta estrofe me volta à mente, geralmente nos momentos de crise. Vó sempre diz que admira o quanto eu trabalho, porque eu não desanimo. Se ela soubesse que eu desanimo sim, desanimo muito...
A começar pelo fato de que eu nem acho que trabalho tanto assim. Eu faço muitas coisas, é diferente. Mas nem sempre dá pra ver o produto dessas coisas. E eu sofro pra fazer tudo, mas é um sofrimento desnecessário. Sofro por causa da minha mente de macaco, da falta de concentração, da inconstância.
Minha vó admira quem não se deixa abater, e volta e meia eu me sinto abatida. Vou empurrando tudo pra frente, do jeito que dá, até a fase passar. Mas parece que nunca passa por muito tempo.
Será que eu sou forte? Não sei se quero ser exultada... Porque até nas vitórias eu sinto medo. Sinto que sou uma fraude: as pessoas vêem mil qualidades, mas todas elas são falhas. Cada conquista vem acomapanhada do medo da incompetência, do medo de decepcionar as pessoas, medo de não ser merecedora, de ter conseguido por sorte ou coisa assim. E o pior: o medo de mudar de ideia, de não saber o que quero da vida e descobrir que, na verdade, não era aquilo que eu queria fazer. Que não era aquilo que me faz feliz. Mas o que me faz feliz? Será que eu nunca fico satisfeita com nada?
Acho que a dúvida da minha vida, o monstro debaixo da minha cama, perturbando meu sono, puxando meu travesseiro, é a dúvida sobre o que é minha vontade e o que é a expectativa alheia. É muito difícil conseguir separar. Às vezes duvido que me conheço.
Quais são meus gostos? O que me move? O que me faz feliz?
Descubro por um tempo, mas logo vou acumulando coisas, esquecendo compromissos, ficando exausta, daí vêm as crises de choro, a falta ou o excesso de sono, os dedos feridos, as falhas no cabelo, a pele manchada, o estômago ruim, a vontade de fazer só nada. Será que eu desgosto dos meus gostos tão rápido?
Ai vó, eu não sou um Tamoio. Eu não chego nem perto. Eu caio na primeira flechada.

...

Este post é um vômito. Talvez uma das Mayras do futuro possa relê-lo e sentir que, depois disso, algum alívio chegou.